LUTO _MORRE DINA DI

| |
A guerreira do rap nacional não está mais entre nós. 

Dina Di morreu na madrugada deste sábado (20),

vítima de uma infecção generalizada. 

A rapper contraiu uma infecção hospitalar,

no início do março, enquanto dava a luz a sua filha.

A infecção aumentou e levou nossa guerreira.

Aqui na Terra é uma grande perda, para os fás,

para a família, para os amigos.

Mas, esteja onde estiver, ela vai estar cantando

e encantando com seus versos.

Esteja em paz irmã!
Eu Duh..Criador deste Blog..Acordei Hoje com essa triste noticia...sentirei imensa falta..pois é umas das cantoras e cantores ou grupo q mais ouvi em todos os tempos,com suas letras cativantes,pesadas..q atrae e chama a atenção para a realidade em qual vivemos..uma grande perda para o Rap,para o seus familiares amigos e fãs assim como eu..descanse em paz.."grande Rainha do Rap",mas saiba aonde vc Está é bem melhor e todo sofrimento acabou.Paz(D.U.H)


 campineira Dina Di, de 34 anos, considerada uma das maiores expressões femininas do cenário do rap e do hip hop nacional. Segundo amigos, Dina Di morreu no Hospital Evaldo Foz, em São Paulo. A causa da morte não foi confirmada pelo hospital, mas segundo informações de pessoas próximas à cantora, ela teve uma infecção pós-parto.

Ela tinha dado à luz a uma menina (Aline), no último dia 2 de março, no Hospital Master Clin, também na Capital. Desde o dia em que teve o bebê, dizem os amigos, Dina teria tido várias passagens por hospitais.

Dina Di, ou Viviane Lopes, nasceu em Campinas e morou parte da infância na região dos DICs. Foi lá que deu início à vida musical, como diz o amigo e vocalista Kid Nice, do grupo Sistema Negro, também de Campinas. “Conheço ela desde pequena, quando ainda era uma menina, praticava capoeira e andava com um violão nas costas.”

Kid conversou com a reportagem e disse que foi no início dos anos 90 que Dina começou a se interessar pelo rap. “Ela conheceu a gente e começou a escrever as próprias letras, cantar e gostar do estilo. E virou a rainha do rap.” Segundo ele, não demorou muito para que o sucesso viesse, com o estouro, em âmbito nacional, da música Confissões de uma presidiária. Nessa época, ela fazia parte do grupo Visão de Rua, com quem fez shows pelo Brasil e levantou a bandeira rap em vários estados do país. “Ela era a referência no rap e minha amiga de muitos anos. Ela tinha uma potência de interpretação muito forte”, comentou. 


Ela é Dina Dee. Não tem nem RG. Toda vez que fez um, perdeu. Não tem endereço nem paradeiro. O celular roubaram quando visitou o marido na cadeia. Não tem emprego, nem dinheiro, nem religião. Perdeu a guarda do filho de 6 anos. O pai, mestre-de-obras, morreu engasgado com um pedaço de carne num boteco. Quem andava por perto achou que era trago. Ele ainda se arrastou até o banheiro. Terminou de morrer na privada. A mãe, camelô, foi assassinada dentro de casa há um ano. Morreu devagar, noite adentro, asfixiada com o guardanapo de pano que lhe enfiaram na garganta, as mãos e os pés amarrados com os fios do varal de roupas. Dias depois o companheiro de Dina foi vingar a sogra, acabou baleado e preso. Dina Dee ficou só. Dela própria, só tem as rimas. Não tem alma de rapper, tem a carne mesmo. Aos 26 anos, ela transforma feridas arrombadas em letras.

Dina Dee, como todas as rappers, é filha bastarda desse berro. Bastarda porque o hip-hop é cria seminal, masculina. É rebento de homem criado por mulher. Como Mano Brown, referência maior do rap nacional, que nunca conheceu o pai branco. Nas letras dos Racionais – e de boa parte dos grupos – a mulher é partida em duas. Tem a mãe, uma santa guerreira, a encarnação da Virgem Maria. Uma negra e uma criança nos braços/solitária na floresta de concreto e aço (...) Aí dona Ana/sem palavra/a senhora é uma rainha, diz Brown na excelente 'Negro Drama', do último CD, Nada como Um Dia após o Outro Dia.
E tem a 'vadia', todas as outras mulheres. Ir pra cama sozinho não vira esquema/Segunda a Patrícia/Terça a Marcela/Quarta a Raíssa/Quinta a Daniela/Sexta a Elisângela/Sábado a Rosângela/E domingo? É matinê, dezesseis, o nome é Ângela/(...) Estilo cachorro/não é machismo/fale o que quiser/o que é, é/velho ou sangue bom/tanto faz pra mulher/não me importa de onde vem/nem pra quê/se o que ela quer mesmo é sensação de poder, diz 'Estilo Cachorro', do mesmo CD. Pergunte a Sansão quem foi Dalila.
A paulista Dina Dee não só é mulher, como é branca, a cor dos opressores, 'dos playba', num movimento que conquistou o mérito de devolver a auto-estima aos adolescentes negros. Poderia ser uma 'vaca nazista', como são chamadas as brancas no discurso rapper mais radical. Mas é Dina Dee, uma mina de fato. São ainda poucas as mulheres no rap brasileiro e, entre elas, foi Dina Dee quem mais esmurrou a porta desse barraco. Liderou o grupo feminino Visão de Rua, três CDs gravados, vencedor do Hutus 2000 e 2001, o maior prêmio do hip-hop nacional.


Entre todas as vozes femininas que se levantam, Dina Dee é a mais marginal na vida. Quase invisível no sistema que o hip-hop combate, ela é denúncia andante, conceitua o rap na carne. Sem documento, dias atrás tentava provar num cartório que era 'amásia' para poder visitar o companheiro na cadeia. Para fazer o videoclipe Mente Engatilhada foi pedir um tênis numa loja porque não tinha sapato. Tudo o que come é arroz com feijão uma vez por dia.
Foi achada vivendo de favor, dormindo no chão de um único cômodo dividido com mais dois numa quebrada mais do que pesada da Zona Leste de São Paulo. Tinha R$ 5 no bolso e a TV ligada nas notícias do mundo-cão para saber como andava o clima nas prisões. Preparava uns CDs para despachar rumo a uma penitenciária feminina onde eles 'vão rodar, de cela em cela, de cadeia em cadeia'. 'Uma prima minha perdeu o filho dentro da prisão. Foi abortando a criança durante a noite, sem socorro. Quando a mulherada ouve as minhas músicas, sabe que não está sozinha', conta. No fim de semana, Dina Dee encontra o grupo de rap RZO para fazer até três shows por noite sem ter a certeza de voltar com algum. 'Tô vivendo de sonho, de subir no palco. Pegar trem, ônibus, perua e cantar para verem que eu não morri. Sobrevivi a tudo e estou ali', diz. 'E depois descer e não ter nem dinheiro para comer um cachorro-quente.'
Perdeu a conta de quantas vezes amargou a Febem, perambulou por distritos policiais, fugida de casa desde os 13 anos, cansada de trabalhar para a mãe desde os 7, vendendo rosas, bonecas de corda, cachos de uva. Tem problemas de dicção, só estudou até a 3ª série, nada disso a impediu de escrever desde sempre, com uma caneta sem pedigree e as vísceras. Fala 'estrupo', mulher muitas vezes é 'muié', nós é 'nóis'. Mas rima as dores que a perfuram. 'Eu nunca paguei pau pra homem', desafia. 'Do nosso mundo só nóis conhece. Cada mulher sabe o medo que ela tem. O homem pode ver, mas não pode sentir. Por isso, eu tenho o maior respeito pelos Racionais, mas, vai me desculpar, chamar uma mulher de vadia é muito difícil de aceitar. O Mano Brown fala da mãe nas letras, mas nunca da mulher dele. Qual é a resposta? Resistir. Eu sou Dina Dee. E meu bagulho tá no sangue.'
Ela descobriu o hip-hop aos 16 anos. Começou a cantar enfiada em roupas largas, óculos escuros, boné, cara de má, ao estilo da primeira geração do rap feminino que subiu ao palco travestida de macho. 'Eu não queria botar roupa justa para olharem para a minha bunda e não repararem na minha música. Queria que ouvissem a minha verdade', explica. Hoje usa sombra azul, trança o cabelo, sobe no salto. Lady Chris, uma das veteranas, foi a primeira a enfiar uma minissaia e enfrentar os manos do palco. Outra pioneira, Sharylaine, se vestia como homem, mas usava rosa para marcar a diferença. A nova geração surge cada vez mais feminina, no visual, na voz e no estilo de cantar. Como Negra Li, do RZO. Linda de voz e de estampa, ela levanta a platéia masculina, que joga os bonés no palco em busca de um autógrafo.
Nenhuma delas ainda é espelho para as garotas da periferia que, se não querem mais ser Xuxa, têm a rapper americana Lauryn Hill como referência. Mas o cenário começa a mudar pelo esforço de cantoras como Dina Dee e outras 'minas firmeza'. 'Eu digo pra essas meninas que sou a número um porque resisto. Perdi tudo o que tinha para perder. Pai, mãe, filho, casa, meu nome f. no SPC. E tô aí, fazendo rap para mostrar que tô viva', grita. 'Tô aí, morrendo um pouco por dia.'
Do que ela mais tem medo é da morte de Dina Dee. Quando descer do palco e só restar a Viviane Lopes Matias, o nome que constava no RG que perdeu, 'uma mina que não tem emprego, nem estudo, nem chance'. A Viviane 'não nasceu pro crime, mas não tem currículo nem pra faxina'. Essa é a força do rap e Dina Dee o encarna como poucos – homem ou mulher. Sem o grito da periferia, só caberiam aos excluídos do banquete os restos. No palco, diante de milhares de sobras humanas com voz e com raiva, Dina Dee e os seus têm chance de não morrer no beco.

Fonte: Revista Epoca

1 comentários:

Joao Matheus disse...

Quem é Lady Chris

Postar um comentário